Histórico

As discussões acerca do uso, transporte, difusão e proteção dos conhecimentos e saberes tradicionais relacionados à ayahuasca vem se intensificando desde o ano de 2015, através de articulações e debates de povos indígenas do Acre junto a órgãos de controle, patrimônio e fiscalização do governo brasileiro. A ayahuasca tem sido usada, por muitos anos, como base tradicional dos trabalhos espirituais e medicinais de muitos povos originários, sendo esta bebida de extrema importância para a prática de rituais e para a perpetuação de saberes e conhecimentos tradicionais desses povos.

Cabe uma observação sobre o uso do termo Ayahuasca. Este termo não substitui as diversas denominações dadas por cada povo, tais como kamarãpi, uni, huni, dispãnī hew, tsĩbu, caapi, gaapi, entre outras. No entanto, desde a I Conferência Indígena da Ayahuasca foi decidido em plenária que seria usado Ayahuasca por ser um termo que abrange o uso dessa medicina em diversos contextos.

A proposta de realização da primeira conferência indígena para discutir assuntos relacionados à ayahuasca foi uma reação à forma como participantes indígenas foram envolvidos nas discussões durante as Conferências Mundiais da Ayahuasca, principalmente na “AYA2016 – II Conferência Mundial da Ayahuasca”, realizada pelo ICEERS (International Center for Ethnobotanical Education, Research & Service), na cidade de Rio Branco – Acre, em outubro de 2016.

Apesar da participação pouco efetiva de indígenas, a discussão promovida durante este evento reforçou a necessidade de reflexões mais aprofundadas sobre as formas de proteção dos saberes tradicionais relacionados a essa medicina, levando em consideração principalmente o protagonismo e a ótica indígena, conforme consta na “Carta Aberta dos Povos Indígenas do Acre sobre Conferência Mundial da Ayahuasca”.

A importância do protagonismo dos povos indígenas nessa discussão foi defendida publicamente pela liderança do povo Ashaninka, Benki Piyãko. Esse posicionamento foi compartilhado e assumido por Biraci Nixi Waka Yawanawá e Joel Dëvakï Puyanawa que, juntos, refletiram sobre a necessidade de terem um espaço de discussão onde o protagonismo fosse dos povos indígenas. Essa proposta foi apresentada por Benki em dezembro de 2016, durante a Assembleia das Organizações Indígenas OPITAR (Organização dos Povos Indígenas de Tarauacá), OPIRE (Organização dos Povos Indígenas do Rio Envira) e OPIRJ (Organização dos Povos Indígenas do Rio Juruá).

Após deliberação, representantes das comunidades indígenas apresentaram a demanda de se estabelecer um espaço de diálogo sobre o assunto iniciado pelo movimento das igrejas daimistas, a ‘patrimonialização’ da ayahuasca, de maneira que, entendendo melhor o conceito disso e o que representaria para a cultura tradicional da espiritualidade indígena, seria possível se posicionarem sobre o tema. Definiu-se, então, pela realização de um evento anual que seria o espaço oficial de discussão sobre as questões relacionadas à ayahuasca, um local de ‘governança indígena’, que foi iniciado em dezembro de 2017. O formato escolhido foi o de ‘conferência’ e, com base nisso, batizou-se o evento como “Conferência Indígena da Ayahuasca”.

As duas primeiras conferências, em 2017 e 2018, alcançaram um nível espetacular de participação de indígenas e demais interessados nessa temática. A relevância desse debate, conduzido pelos líderes espirituais indígenas, suscitou o interesse de diversas camadas da sociedade não-indígena, aglutinando, em cada evento, pessoas de diversos países, além de diversas instituições públicas brasileiras e organizações da sociedade civil, nacionais e internacionais. Registrou-se até a presença de magistrados da justiça federal brasileira, dando ao evento um protagonismo de cunho jurídico importantíssimo para as reivindicações e temas discutidos.

Em 2019, conforme deliberado na segunda edição do evento, o Instituto Yorenka Tasorentsi (IYT) recebeu a terceira Conferência, contando com a participação de mais de cento e doze representantes dos povos indígenas do Acre, bem como do estado do Amazonas e de países como o Peru e a Colômbia. Além disso, o evento contou com a participação de diversas instituições nacionais e internacionais, autoridades políticas locais e pesquisadores. Somando-se à equipe executora, convidados e visitantes esparsos, mais de trezentas pessoas estiveram presentes nos sete dias de evento no Instituto Yorenka Tasorentsi.

A IV Conferência Indígena da Ayahuasca será realizada novamente na sede do IYT e representará o início de um objetivo traçado ainda em sua primeira edição: a captação de recursos a partir da própria organização do evento, sem contar com financiamento público, favorecendo maior autonomia de execução. Essa mudança de postura só é possível devido às doações de importantes parceiros do IYT, que observam nessa iniciativa um relevante espaço de diálogo e representatividade dos povos originários não só do Brasil como também de outras partes do mundo. Está prevista a participação de povos indígenas de diversos lugares do Brasil e de outras partes do mundo, como Peru, Equador, Colômbia, México, Canadá e Austrália, bem como de parceiros institucionais e pesquisadores.

Além de produção textual, também são feitos registros visuais e audiovisuais, com o intuito de criar materiais de referência para estudo e divulgação dessa temática como um dos pontos fundamentais na pauta dos direitos indígenas.

ACERVO

PERGUNTAS
FREQUENTES

Português

A Conferência Indígena da Ayahuasca é um importante espaço de discussão e deliberação dos povos indígenas sobre os usos, costumes e compartilhamento de conhecimentos sobre as “medicinas tradicionais”. Hoje a Conferência está na sua quarta edição.

Trata-se de um evento fechado. A Conferência não é paga. É permitida a presença apenas de convidados escolhidos previamente. A necessidade de limitação do número de participantes garante espaços de discussão aberta e segura para os indígenas.

A quarta edição da Conferência Indígena da Ayahuasca ocorrerá no período de 25 a 29 de setembro de 2022.

A Conferência Indígena da Ayahuasca terá 05 dias de duração.

O local será divulgado somente para os participantes convidados.

Durante o evento estarão disponíveis espaços para o consumo de produtos como sucos naturais, água de coco e artesanatos indígenas.

Haverá acesso à internet somente para a organização do evento. Possibilitando aos participantes efetivamente prestigiar os debates durante a conferência, evitando dispersões desnecessárias durante as sessões.

O evento contará com serviços médicos e de enfermagem básicos, acionados em caso de necessidade. Porém, caso o participante faça uso de medicamentos, sua prescrição, compra e tratamento será de sua exclusiva responsabilidade.

A programação será divulgada somente para os participantes convidados em momento oportuno.

Apenas povos indígenas, pessoas e equipes autorizadas pela equipe organizadora da Conferência poderão fazer registros fotográficos, vídeos e áudios. A limitação destas atividades visa garantir um ambiente seguro e de livre discussão aos participantes.